OS RECOMMENÇANTS
Escrito em 18-10-2023
Uma das coisas que mais me espanta no ministério sacerdotal é a quantidade de pessoas que bate à porta da Igreja para recomeçar.
São muitos aqueles que entram pelas portas da igreja e que nós não sabemos quem são, para fazerem uma coisa que eles também não sabem o que é.
Na Igreja francesa chamam-lhes “recommençants”.
A palavra apareceu no documento Dagens (1), em 1994, e na Carta dos bispos, de 1996 (2), ao lado dos ‘catecumenos’, como um terceiro campo da evangelização, depois do pastoreio das comunidades e da missão ad gentes.
Os reiniciantes são aqueles que foram batizados e não fizeram a iniciação cristã, e que, por afastamento, esquecimento ou desaculturação, deixaram a Igreja. Chegam vindos do reencontro ou de um incentivo, de uma provação ou de um choque. Não sabem o que querem da Igreja, nem o que podem esperar dela, nem têm palavras que descrevam a vida espiritual.
Como se não bastasse, trazem representações negativas de Deus, da fé e da moral, incertezas quanto à forma como vão ser recebidos, e o receio de que nada tenha mudado desde a última vez que lá estiveram. (3)
Eles - é claro que já não podemos dizer ‘eles’ - são os recommençants, e nós quem somos? Somos isto tudo que segue: uma comunidade fraterna e um lugar de comunhão; em ‘estado de evangelização’ e em ‘permanente missão’; rosto da Igreja local e centro de constante acolhimento.
Estes recommençants não vêm pedir um primeiro anúncio, mas um segundo anúncio, e pedem-nos tempo, disponibilidade e acompanhamento. São um elemento surpresa, um novo início, que precisa do reconhecimento de todos nós. Escrito em 18-10-2023
1 Claude Dagens, Proposer la foi dans la societè actuelle, 1994.
2 CEF, Letre aux Catholiques de France, 1996
3 Tudo isto é descrito em Claire Gèrard, La pastoral des recommençants en paroisse: un chemin de conversion missionnaire mutuelle, 2020. Trata-se de uma tese muito incisiva e muito útil, cujo título chamou a atenção e que fica desta forma resumida.
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