9 de março de 2025, Domingo I da Quaresma
Seremos servidos por anjos!
O texto de Lucas diz que Jesus veio ‘repleto’ do Espírito Santo, das água do rio Jordão. Depois desse momento intenso e ardente, sentiu-se impelido a ir ao deserto. Imaginemos o Senhor Jesus na solidão do deserto e da montanha, sem pessoas e sem lugares, sem mínimos de vida. Tantas vezes estamos como Jesus no deserto! Esse é, depois do tempo da exuberância, o tempo da solidão e da tentação; é o tempo do cansaço do matrimónio, do sem saber o que fazer aos filhos, das preocupações com os pais; é o tempo da dificuldade económica, do desemprego, da vontade de mudar, etc, etc. Se não passámos, estamos a passar ou iremos passar no meio do deserto, também sozinhos, sem lugares habitáveis, sem mínimos de sentido.
O evangelho mostra-nos que é nesse deserto por que passamos que aparecem as grandes tentações. A primeira é a de poder consumir tudo, de poder utilizar tudo, como esvaziar o frigorífico, o shopping ou a conta bancária; a segunda tentação é a de poder mandar em tudo, de poder dizer tudo, de poder fazer tudo, com toda a liberdade e sem responsabilidade; a terceira, a de poder fazer uma coisa inédita, que deixe todos boquiabertos, como acabar com o matrimónio, cortar relação com a família, etc. O deserto e a tentação são lugares que todos acabaremos por frequentar.
É nesse lugar comum que o Senhor se torna um pioneiro. Jesus abre caminho para o Pai. Só com o Pai, na presença de Deus, se podem vencer as tentações. O mestre promete-nos que seremos servidos por anjos!
2 de fevereiro de 2025, Festa da Apresentação do Senhor, Alcanena, 12.00
O cântico processional deste domingo 'Levantai ó portas os vossos umbrais e entrará o rei da glória' é um belíssimo mote para esta festa da Apresentação do Senhor.
Na realidade, nós cantamos o salmo 27 - 'levantai ó portas os vossos umbrais, alteai-vos pórticos antigos, e entrará o rei da glória; quem é esse rei da glória? o Senhor poderoso nas batalhas' - cantamo-lo, muitas vezes, ao longo do ano litúrgico! Na Festa da Apresentação, no dia 2 de fevereiro; na Descida à mansão dos mortos, em Sábado santo; na Ressurreição do Senhor, no Domingo de Páscoa; e, também, na Ascensão do Senhor. É um salmo antigo, escrito talvez para a dedicação do templo de Jerusalém, ou para festejar essa mesma dedicação, ou até para cantar a entronização de um rei de Israel. O Salmo canta a vinda da luz ao seu templo; é uma luz tão forte que precisa que os ferrolhos antigos se destranquem, e os portões se alarguem para a vinda de Deus.
A leitura faz-me lembrar o Non abiate paura! Aprite le porte, anzi, spalancate le porte! do papa João Paulo II, no início do seu ministério pontifício. Precisamos de abrir as comunidades, as pessoas, nós mesmos, à luz!
Depois, escutámos o evangelho de Lucas. Tenho a imagem da Virgem Maria a levar um bébé e a entregá-lo a Simeão. Quando as mães e os pais levam um bébé a casa dos avós, dos familiares ou dos amigos que a criança conhece, ela logo saltará para o colo de um rosto ou de um aconchego que lhe é familiar. Tenho a imagem do Menino Jesus a saltar do regaço de Maria para os braços de Simeão. Jesus vem ao que é seu: aquele templo, aquela liturgia, aquele velho, são-lhe familiares, pertencem-lhe!
E hoje cada um de nós vem ao que seu: também esta casa, este ambão e este altar, estes livros e este cálice são-nos familiares. Vimos ter com Aquele que faz parte da nossa vida que é o Senhor Jesus! Obrigado, Senhor, por fazeres parte da nossa vida!
12 de janeiro de 2025, Festa do Batismo do Senhor, 12.00, Alcanena, Igreja de S. Pedro
"O que é que queres ser quando fores grande?!"
Os pais habitualmente perguntam aos filhos 'o que é que queres ser quando fores grande?!' Ontem, na Igreja de Santa Maria, os miúdos respondiam 'quero ser futebolista', ou 'tenista' ou 'paleontólogo'! É bom que os pais façam essa pergunta e ajudem os filhos a compreender a vida como missão. Parece-me, no entanto, que os pais de Jesus, Maria e José, nunca fizeram essa pergunta ao Menino Jesus; arriscavam-se a levar uma resposta semelhante àquela 'Não sabíeis que devia estar na casa de meu Pai?!'
É possível que os pais de Jesus nunca tivessem feito a pergunta mas a tivessem guardado no coração. Parece-me, no entanto, que o Menino Jesus terá perguntado 'Meu Deus e Meu Pai, o que é que queres que eu seja?!' Sim, Jesus coloca-se diante do Pai e pergunta-lhe sobre a sua missão, que é a de ser salvador do mundo. Como diz o profeta Isaías, 'fiz de ti a aliança do povo e a luz das nações, para abrires os olhos aos cegos, tirares do cárcere os prisioneiros e da prisão dos que habitam nas trevas' (Is. 42,7).
É uma bela missão, também expressa, logo depois do batismo, na sinagoga de Nazaré: 'o Espírito do Senhor está sobre mim, porque ele me ungiu... Cumpriu-se hoje a palavra da Escritura que acabaste de ouvir.'. É a missão de fazer uma nova criação, descrita na pomba que paira sobre o caos, no livro do Génesis, e que hoje desce sobre Jesus; e também a de fazer uma nova aliança, como na pomba que regressa à arca depois do dilúvio, trazendo um raminho de oliveira.
Termino, dizendo que deste dia 12 de janeiro, festa do batismo do Senhor, até ao dia 20 de abril, Solenidade da ressurreição, vamos fazer o percurso de reconhecimento e de acolhimento do Senhor Jesus. Muitos perceberam dele um profeta, um mestre, um taumaturgo, outros acreditam nele como o Senhor, o Messias, o Filho de Deus. Outros recusaram-no. Temos um bom guia neste caminho que é a liturgia e a palavra de Deus.
1 de janeiro de 2025, Solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus, 16.00, Alcanena, Igreja de Santa Maria
Que vai ser de ti, meu filho?!
Hoje é o primeiro dia do ano, jornada mundial da paz e solenidade de Santa Maria, Mãe de Deus!
Quando o anjo Gabriel anunciou que Maria iria ser a mãe do Filho de Deus, a jovem perguntou 'como será isso?'; e quando foi saudada por sua prima Isabel, Maria exclamou 'a minha alma glorifica o Senhor!' Maria escuta e responde.
Mas, desde o nascimento de Jesus, em Belém da Judeia, Maria não diz nada.
Vêm os pastores e Maria guarda as suas palavras no coração; o mesmo acontecerá na visita dos magos, e ao ouvir as palavras de Simeão e de Ana, no templo de Jerusalém. 'Maria guardava todos estes acontecimentos, meditando-os em seu coração' (Lucas 2, 19).
Que pensas Maria?!
Parece-me que não há dúvidas, há sim inseguranças! Como uma mãe que tem nos braços um bébé e admira-se de tanta pequenez e fragilidade, Maria também contempla, insegura, quase incerta, o Menino recém nascido.
Parece que a sentimos pensar 'o que será de ti?!', 'como serás rei?!', ' como serás Filho do Altíssimo?! Essa insegurança é o espaço que faz contemplar o Menino como um Mistério.
A insegurança, a incerteza das nossas vidas, neste início de ano, fazem-nos contemplar, como Maria, a vida como um presente, um mistério, cujo destino está nas mãos de Deus!
Senhor, abençoa o mistério que somos todos nós!
29 de dezembro de 2024, domingo, 12.00, Alcanena, Festa da Sagrada Família
O envolvimento dos pais de Jesus
O Evangelho deste domingo da Sagrada Família de Nazaré tem duas frases pequeninas que gostaria de comentar.
A primeira é 'os pais de Jesus iam todos os anos a Jerusalém, pela festa da Páscoa' (Lc 2,41). Estamos habituados a ver Maria e José separados; ela é a Virgem Maria e ele o castíssimo justo de Israel; cada um tem as próprias aparições do anjo Gabriel, e as perspetivas sobre o Menino parecem não se cruzar. Esta frase mostra-nos, no entanto, que José e Maria iam todos os anos a Jerusalém, como casal, no espécie de peregrinação ou de retiro! Quanta cumplicidade, quanto envolvimento e compromisso um com outro estão manifestos nesta pequenina frase!
A segunda é a frase que segue 'quando Ele fez doze anos, subiram até lá, como era costume nessa festa' (Lc 2,42). José é o rosto paterno de Deus Pai para Jesus; Maria é o sinal da ação, da operação, do Espírito Santo e da graça derramada no coração. José e Maria são os canais humanos, como que as mediações da presença de Deus; com certeza que essa presença será essencial e interior no próprio Cristo, e será com certeza explicitada por Maria e José. Os pais de Jesus ensinam, melhor, introduzem, o Senhor Jesus à vida de Deus!
Parece-me que o que mais falta nos nossos casais e nas nossas famílias é Deus. Não tenhamos preconceito, respeito ou vergonha de falarmos da Santíssima Trindade, do Povo de Israel e da santa Igreja!
24 de dezembro de 2024, terça-feira, 22.30, Espinheiro, Missa da noite
O poder de nos tornarmos filhos de Deus
A liturgia da palavra desta santa noite é cheia de contrastes e de desproporções.
A primeira aparece-nos logo na primeira leitura tirada de Isaías quando descreve 'o calçado ruidoso da guerra' (7) e 'os belos pés do mensageiro que anuncia a paz', também de Isaías, na primeira leitura de amanhã (Is. 52).
O segundo contrastes é o da 'roupa manchada de sangue' com 'o Menino recém nascido, envolto em panos e deitado na manjedoura' (Lc 2). O terceiro poderá ser o César Augusto imperando em todo o orbe com a pequenez da cidade de David, Belém, e da manjedoura feita trono.
As desproporções são gigantescas. De um lado o poder, do outro, o serviço, de um, o domínio, do outro, o do Espírito.
Amanhã, na missa do dia, escutaremos no Evangelho de S. João que Deus 'deu-nos o poder de nos tornarmos filhos de Deus' (Jo 1). Esse é o poder de Jesus, o de entregar o Espírito Santo; e nós participamos desse poder de sermos doadores do Espírito, no perdão, na comunhão e na construção de um mundo melhor.
21 de dezembro de 2024, sábado, 6.30, Igreja de S. Pedro
Já passou! Mostra-me o teu rosto!
As leituras deste dia 21 de dezembro criam a imagem de um pai que diz à filha 'já passou!', 'olha p'ra mim!', 'mostra-me o teu rosto!', depois dela ter caído, ter-se assustado ou acordado de um pesadelo.
Na primeira leitura, tirada do livro do Cântico dos cânticos, Deus diz 'já passou o inverno' e 'mostra-me o teu rosto, deixa-me ouvir a tua voz' (Cãnt 2,8). É o próprio Deus que assegura à trémula pomba que não precisa esconder-se nas fendas dos rochedos nem de abrigar-se nas encostas escarpadas.
No Evangelho de Lucas, escutámos a visita de Maria a sua prima Isabel. Não esqueçamos que o relato da aparição do anjo Gabriel a Zacarias, no templo de Jerusalém, nos tinha deixado com o escondimento de Isabel: 'Isabel, sua esposa, concebeu e permaneceu oculta durante cinco meses' (Lc 1,24). Isabel parece ter receio, sente embaraço ou vergonha.
É a Virgem Maria que diz a Isabel 'já passou!', 'mostra-me o teu rosto!', 'olha p'ra mim!'. De facto, Isabel já não precisa de ter medo porque se aproxima o Salvador, e diz 'donde me é dado que venha ter comigo a mão do meu Senhor?' Ela ouviu a voz da saudação e veio-lhe ao encontro.
Parece-me que neste Natal o Senhor Jesus vem para nos tirar o medo, a vergonha, a submissão, causados pelo desprezo ou pela humilhação. Temos um Salvador deixemo-nos libertar por Ele.
22 de dezembro de 2024
III Domingo do Advento, Domingo da Alegria
A justiça é o caminho para a alegria!
O Evangelho deste 3º domingo do advento coloca-nos alguns grupos de improváveis a mudar de vida.
Encontramos, por exemplo, os soldados, gente habituada à guerra, à violência e à morte, a perguntarem a João 'o que devemos fazer?'. Também os publicanos, cobradores de impostos, habituados à usura e à corrupção, perguntam a João 'o que devemos fazer?'
Aos primeiros, João responde que não devem praticar a violência e devem contentar-se com o soldo; aos segundos, responde que não devem exigir mais do que for prescrito.
Trata-se, no entanto, da ordem da justiça.
Significa que é necessário passar pelo arrependimento, e depois pela justiça, para chegar à ordem da graça. Uma não existe sem a outra!
É necessário, por isso, colocar as relações humanas na ordem justa para nos podermos amar uns aos outros.
Nós somos seres relacionais; relacionamo-nos na família, na turma, no clube, na catequese, no partido, etc. Temos relações que nos constituem e nos constroem.
Procuremos a justiça em todas elas de modo a podermos viver na ordem da graça.
10 de novembro de 2024
XXXII Domingo do Tempo Comum
Dispor dos restos! - a viúva de Sarepta e a viúva de Jerusalém
A primeira leitura deste domingo, tirada do primeiro livro dos Reis (17) conta-nos a história de uma viúva, mãe de um filho único, que se encontra na rua, a apanhar ‘uns cavacos de lenha para preparar esse resto para mim e para o meu filho’ e depois esperar a morte. Esse resto era o pouco de azeite na almotolia e o punhado de farinha na panela; a região passava com certeza por uma terrível seca.
Ao deparar-se com Elias, o profeta pede-lhe ‘coze-me um pãozinho e depois traz-mo aqui, e prepararás depois o resto para ti e para o teu filho…’. A mulher fez o que lhe tinha dito o profeta e nunca mais se esgotou o azeite e a farinha.
O evangelho de Marcos narra também a história da viúva. Desta vez, trata-se de uma viúva de Jerusalém que vem ao templo e deposita duas pequenas moedas, ou seja, ‘tudo o que tinha, tudo o que possuía para viver’ (Mc 12)...
Estas duas histórias não podem ser a apologia da pobreza. Descrevem a imensa confiança - ‘confiança prática’ - na providência de Deus que nunca abandona aqueles que nela esperam.
A mim, estes restos de azeite, de pão e de moedas, recordam-me alguns restos de vida que guardamos e com os quais lidamos muitas vezes. São os restos do que já foi e não volta mais.
São, por exemplo, um nome que sobrou de uma família imensa e importante, um curso que foi feito e não serve de nada, ma empresa grande e agora fechada, uma casa de movimento agora em ruína, um trabalho que fiz e do qual desisti, etc, etc.
Os exemplos poderiam tocar também as nossas relações, as nossas paróquias, etc, etc… uma paróquia pequenina que já foi grande e ativa, etc, etc…
São os restos, as lembranças, as ruínas, as sobras, do muito que foi feito.
Penso que o Senhor nestas leituras nós poderá querer mostrar que as vezes é preciso perder para ganhar, é preciso dispor para ganhar, é preciso pôr a zeros as contas do nosso passado e do nosso presente para podermos começar de novo.
As víúvas deste Domingo puseram tudo a zeros e não se importaram com isso. Faltou-lhes alguma coisa?
3 de Novembro de 2024
XXXI Domingo do Tempo Comum
Sejamos livres! - a libertação do escriba (Marcos 12)
Acontece algumas vezes que os evangelista, à margem da narrativa, inserem alguns comentários pessoais.
Basta recordarmos, por exemplo, do momento em que S. João diz no momento da deposição de Cristo no sepulcro 'por ser sábado - era um grande dia aquele sábado! -...'
Há um que pode servir de introdução à homilia deste domingo. É de S. Marcos, no capítulo 7: 'Os fariseus viram que vários dos seus discípulos comiam pão com as mãos impuras, isto é, por lavar - 3 é que os fariseus e todos os judeus em geral não comem sem ter lavado e esfregado bem as mãos, conforme a tradição dos antigos; 4ao voltar da praça pública, não comem sem se lavar; e há muitos outros costumes que seguem, por tradição: lavagem das taças, dos jarros e das vasilhas de cobre.'
Parece que os fariseus, e os judeus em geral, cumprem muitos preceitos, que pensam ser de tradição divina e não passam de preceitos humanos!
O Evangelho, no entanto, apresenta-nos hoje um escriba que deseja questionar as coisas adquiridas e libertar-se de coisas que lhe parecem mais fantasias do que realidades importantes.
O escriba deste domingo, no fundo, vem perguntar ao Senhor Jesus o que verdadeiramente é importante. Ele procura ser livre das coisas passageiras para concentrar-se na pessoa divina, no 'amar a Deus de todo o coração e ao próximo como a si mesmo'.
Parece-me que muitas vezes nos desfocamos da realidade primeira. O Senhor primeiro deu-nos a Páscoa e, depois, é que nos permitiu fazer os preceitos. Não podemos tomar os últimos pelo primeiro.
Sejamos livres! Sejamos criativos! Abramo-nos ao outro! Deixemo-lo entrar nas nossas vidas e nos nossos grupos!
27 de outubro de 2024
XXX Domingo do Tempo Comum
Que eu veja o Filho de David!! - O cego Bartimeu (Marcos 10)
É surpreendente o silêncio que Jesus impõe aos discípulos, às multidões e aos miraculados. Há um cuidado, uma espécie de segredo, imposto pelo próprio Senhor. Jesus não quer mal entendidos! Ele não será alguém para liderar políticas e projetos, nem para lidar com as pessoas como se lidam com os objetos. O silêncio guarda a Sua verdadeira identidade. E o Senhor impõe o silêncio.
Vemos isso na cura do surdo-mudo - aquele a quem Jesus enfia os dedos pelas orelhas dentro e diz 'Effetá! Abre-te!' (Marcos) - o qual ouvirá, pela primeira vez, 'Não digas nada a ninguém!'
O mesmo sucede ao cego de Betesda a quem Jesus também dirá 'Não digas nada a ninguém!' Muitas outras vezes, o Senhor ordena o silêncio aos seus silêncios.
É por essa razão que a multidão manda calar o cego Bartimeu, filho de Timeu. É que ele grita 'Filho de David', 'Filho de David', e ninguém pode saber que Ele é mesmo o Filho de David.
Curiosamente, desta vez, Jesus ouve-o, chama-o e como que lhe diz 'Tens razão, Sou o Filho de David': que queres que te faça? Que eu veja, que eu Te veja, que eu veja o Filho de David! Jesus já não se importa, Jesus quebra o silêncio que impôs.
O Senhor Jesus compreende que as pessoas também compreenderam! As pessoas compreenderam que Ele é a pessoa divina que produz efeitos no coração das pessoas. O Senhor não se importa mais com o seu segredo.
Manda então os discípulos à aldeia ali em frente a soltar um jumentinho filho de uma jumenta para entrar na cidade de Jerusalém ao canto do 'Hossana! Hossana! Ao Filho de David!"
13 de outubro de 2023
XXVIII Domingo do Tempo Comum
Ficar para a história! - o homem que possuía muitas riquezas (Marcos 10)
Os evangelhos têm o cuidado de dizer os nomes daqueles que procuram Jesus e o seguem. Identificam Nicodemos, Zaqueu, Bartimeu, Mateus, etc., mas não o fazem quando aqueles que procuram Jesus deixam o seu seguimento a meio caminho. É o caso do homem deste Domingo que 'se aproximou, correndo, e se ajoelhou diante dEle' (Mc 5,3). É um anónimo...
Com certeza que Nicodemos, Zaqueu ou Mateus poderiam aproximar-se de Jesus, correndo e dizendo as palavras da primeira leitura, tiradas do livro da Sabedoria: ' orei e foi-me dada a prudência, implorei e veio a mim o espírito de sabedoria; amei-a e decidi tê-la como luz' (Sab 7,7). Eles queriam mais e estavam disponíveis para o mais que viesse.
Com o homem do evangelho é diferente: ele conhece a escritura, cumpre os mandamentos, vai à sinagoga e peregrina a Jerusalém, mas não sente nada, não passa daquilo, 'desde a sua juventude', em nada progrediu na fé e já não sabe o que há-de fazer. Habitualmente o desejo é um guia do caminho, mas este homem anónimo perdeu-o.
Corre para Jesus, explica-lhe o percurso, e o Mestre compreende-lhe a dependência, a amarra, e simplifica-o como se fosse um pequeno laçarote: 'Vai vender o que tens, dá o dinheiro aos pobres e depois segue-me'. Jesus olha com simpatia, porque a resolução é muito simples, mesmo muito fácil. Se a dependência das riquezas é uma amarra enorme, para Jesus é uma questão simples de liberdade e de desprendimento.
Gostaria de salientar que Jesus oferece a este homem anónimo a oportunidade de uma vida. Parece-me que Jesus de Nazaré o convida para o grupo dos discípulos, convida-o a conviver com Simão Pedro, André, Tiago e João. Mas a dependência, a cegueira, não permite a este anónimo antecipar o chamamento e o seguimento, e, por isso, não ficou na história.
22 de setembro de 2024
XXV Domingo do Tempo Comum
Esta é a vossa missão! - o poder dos discípulos (Marcos 9)
O Senhor Jesus mandou os seus discípulos, dois a dois, a anunciar o Reino dos céus, a curar os enfermos e a perdoar os pecados. Os evangelhos dizem-nos que eles sentiram uma grande alegria e uma profunda gratidão por verem os efeitos da missão. Os discípulos estavam bem na missão!
Nos últimos domingos, o Senhor anuncia-lhes, porém, que tem de ir a Jerusalém, para sofrer muito e morrer às mãos dos homens, e ressuscitar ao terceiro dia. Mas "os discípulos não compreendiam aquelas palavras e tinham medo de o interrogar" (Mc 9); não as compreendiam, mas compreendiam o que poderia significar ir a Jerusalém, com o Messias, o novo Rei de Israel!
Parece-me vê-los a fantasiar: Simão Pedro poderia imaginar-se o novo governador da cidade, André novo sumo sacerdote do templo, Mateus o guardador do tesouro, e Tiago o chefe do sinédrio. Cada um deles aparece-me assim destacado da missão, a prever concorrências e a congeminar estratégias, no fundo, a pôr-se em bicos de pés e a fazer-se maior que o outro!
À noite, Jesus perguntou-lhes: 'rapazes, ainda hoje não vos ouvi falar sobre o anúncio do Reino, sobre a cura das doenças e o perdão dos pecados! Então, o que é que se passa?!' - ou: "o que discutíeis no caminho? Eles ficaram calados porque tinham discutido uns com os outros sobre qual deles era o maior" (Mc 9). Então Jesus chama uma criança para o meio, uma daquelas de um rancho de irmãos, desnutrida, magricela e suja, e diz-lhes: 'esta é a vossa missão!'
Na verdade, quando nos distanciamos ou nos destacamos da verdadeira missão, ficamos mal, e, às vezes, até mal uns com os outros; e, pelo contrário, quando sabemos qual é, e quais as prioridades que a compõe, trabalhamos como um só, e vemos os efeitos do trabalho conjunto. E ficamos bem! Fiquemos bem na missão que é a vida e nas prioridades que a tornam intensa.