A imagem que segue, de Isabelle Morelle, é extraordinária, e ilustra bem o caminho que a catequese está a fazer neste século XXI. O processo catequético é como a subida a uma grande montanha feita por um grupo de rapazes e de raparigas, acompanhados pelo seu guia. Ele e os quinze exploradores delinearam o percurso - o itinerário - e as fases de escalada do monte. À medida que forem subindo, cada qual vai manifestar um interesse diferente. Um que tenha apetência por animais, vai estar atento aos bichos; outro que tenha gosto de árvores, vai classificá-las por espécie; e, sucessivamente, os quinze mostrarão interesses distintos, e expressões diferentes do que pensam e sentem.
Se o grupo tiver um potencial pintor, fotógrafo, alpinista, agricultor, produtor, operador de turismo, biólogo, geólogo ou veterinário, poderá antever-se a diversidade de experiências e de opiniões. De fcato, cada um vai subir com os seus próprios interesses, parando em lugares que não lembrariam a ninguém, distinguindo coisas que vão escapar aos outros, dando-lhes sentido segundo as próprias motivações. Estamos a falar de um grupo que vai fazer um caminho, que, no fundo, acabarão por ser quinze caminhos diferentes, ainda que sincronizados e integrados uns nos outros. Ao guia - ao acompanhador - competirá o labor de acompanhá-los a todos, promovendo as suas motivações e fazendo integrar elementos que façam sentido!
O caminho da catequese no século XXI tem sido o de colocar 'a catequese dentro do processo de evangelização' (419). Ou seja, se toda a Igreja deseja ser missionária, e renovar-se de forma permanente, então a catequese contribui nesse processo como catequese missionária. Se a Igreja é toda ela um grande processo de evangelização, então a catequese contribui para o processo de evangelização. Para ilustrar essa mudança de paradigma eclesial e catequético, procurei no novo Diretório para a Catequese, de 2020, a palavra 'processo', num total de 129 localizações, e a palavra 'acompanhar', num total de 83 localizações; descobri - só no fim! - que existe a entrada 'Processo' e "Acompanhamento" no Léxico do Diretório (estas entradas são muito úteis para compreendermos os temas importantes no novo Diretório).
Seguem-se as ideias que as contextualizam.
1. O grande processo de evangelização da Igreja; a catequese no grande processo de evangelização da Igreja
a) Processo de evangelização: toda a Igreja está em processo de evangelização. Toda a Igreja está em 'processo de renovação' (1), em 'processo de nova evangelização' (6), que é um 'processo eclesial sustentado e inspirado pelo Espírito' (31, 39), um processo que abrange dimensões e não apenas fases sucessivas (32). A Igreja precisa 'manter-se num processo de conversão espiritual e missionária' (244), 'é preciso dar início a um processo de conversão missionária que não se limita a manter o que já existe, mas que avança em direção evangelizadora' (300);
b) Processo de fazer discípulos missionários: a Igreja existe como Igreja missionária e existe para formar discípulos missionários. A Igreja pretende criar nas pessoas um 'processo permanente de conversão de vida' (35), suscitar 'processos espirituais' (43), iniciar 'um processo de conversão a Jesus ajudado pela catequese' (78); deve procurar realizar um 'processo educativo de amadurecimento cristão integral' (80), dar origem a 'um processo interior de reflexão' (198), a 'um processo de interiorização da fé' (220, 396);
c) Processo da catequese: a catequese insere-se no processo global de evangelização. Numa Igreja missionária, a catequese tem por finalidade ser 'uma etapa privilegiada de evangelização' das pessoas (56). Com efeito, 'no centro de cada processo de catequese está o encontro com Cristo vivo' (75), sendo, por isso, preciso 'fazer do processo de iniciação cristã uma autêntica introdução experiencial à globalidade da vida de fé' (242);
d) Processo pessoal: o processo catequético respeita o itinerário pessoal. Numa Igreja de nova evangelização e permanente formação, a catequese - como o catecumenado - pretende contribuir com um 'processo dinâmico' e progressivo, correspondente com a biografia de cada pessoa (63), 'num processo que permite a maturidade da fé através do respeito pelo itinerário de cada crente' (166). De facto, 'a fé não é um processo linear e participa no desenvolvimento de cada homem', real, concreto, histórico (224); a fé participa no 'processo lento e laborioso de personalização do indivíduo' (146), mesmo no 'processo contínuo de restruturação' do indivíduo (257) - 'o acto de fé é um processo interior intimamente ligado à sua personalidade' (257). Por isso, 'é importante que a catequese tome a peito o processo de receção pessoal da fé' (396);
e) O carácter comunitário do processo catequético. Numa Igreja fraterna, toda a comunidade se envolve na catequese, de modo que seja um 'processo que se realiza numa comunidade concreta' (64). Neste sentido, 'o catequista leva a cabo este processo educativo não individualmente, mas juntamente com a comunidade e em seu nome (150); a catequese envolve comunidade e família 'dando lugar a processos de evangelização recíproca entre os diversos sujeitos eclesiais envolvidos' (242);
f) Distinção entre processo, conteúdos e métodos. A pedagogia da fé requer um 'processo educativo' enriquecido com as ciências humanas, sobretudo a pedagogia e a didática (180), a experiência humana é constitutiva do processo catequético, do seu conteúdo e do seu método (197), 'outros elementos do processo catequético são a relação, o diálogo, a reflexão, o silêncio e o acompanhamento (203).
g) O processo de evangelização interiorizado pelo próprio catequista. Este processo é 'um processo que toca o íntimo do catequista' (131), que faz com que todo o processo formativo seja uma experiência espiritual lida em perspetiva testemunhal e missionária (135).
2. 'O catequista é um perito na arte do acompanhamento' (113). Também a palavra acompanhar é muito utilizada no Diretório para a Catequese de 2020. Conseguimos localizar 83 palavras relacionadas com a ação de acompanhamento que surgem nos contextos que seguem.
a) A Igreja acompanhadora. A comunidade é o primeiro sujeito do acompanhamento e o serviço do catequista 'é vivido dentro de uma comunidade que é o sujeito primeiro do acompanhamento na fé' (111). O acompanhamento da Igreja é sinal do 'zelo da Igreja que acompanha os seus filhos ao longo do arco da sua existência' (232);
b) A Igreja acompanha todas as situações. O acompanhamento é sinal da abertura da Igreja; 'com zelo, respeito e solicitude pastoral, a Igreja acompanha aqueles filhos que estão marcados por um amor ferido' (234); as comunidades cristãs acompanham com realismo todas as realidades com luzes e sombras 'para as acompanhar de modo adequado e discernir a complexidade das situações' (234), 'acompanhar na fé e introduzir na vida da Igreja as situações irregulares implica tomar muito a sério cada pessoa' (35);
c) A catequese acompanha o amadurecimento da fé. 'O Diretório reitera a importância de a catequese acompanhar o amadurecimento de uma mentalidade de fé numa dinâmica de transformação' (3); 'a catequese forma para a missão acompanhando os cristãos no amadurecimento de fé' (50, 53, 55, 116);
d) A catequese acompanha com paciência. O acompanhamento é feito de forma gradual e progressiva, 'acompanhando com paciência e respeitando os tempos reais de amadurecimento' (64), de modo 'a acompanhar no discernimento da vocação específica' (85), 'o acompanhamento de uma pessoa no crescimento e conversão é marcado necessariamente pela progressividade' (179, 420);
e) O catequista como acompanhador. O catequista é testemunha da fé, mestre e mistagogo, 'acompanhador e educador daqueles que lhe são confiados pela Igreja; o catequista é um perito na arte do acompanhamento' (113). Na verdade, 'são verdadeiros discípulos missionários enquanto sujeitos ativos da evangelização e habilitados pela Igreja a acompanhar e a educar na fé' (132); 'a figura do catequista se concretiza como alguém que acompanha e como um educador capaz de os apoiar nos processos de crescimento pessoal' (263), 'aquele que acompanha mantém conscientemente em relação a eles uma função educativa' (263), 'quem acompanha é capaz de colocar-se de parte, favorecendo nos sujeitos a assunção da responsabilidade' (263), 'o desafio pastoral é de acompanhar o jovem na busca da sua autonomia' (370), por isso, são necessárias figuras com autoridade (370);
f) A formação para o acompanhamento. É necessária a formação permanente para ajudar no acompanhamento dos irmãos (132); 'a Igreja sente o dever de formar os seus catequistas para a arte do acompanhamento pessoal, propondo-lhes a experiência de serem acompanhados, habilitando-os a acompanhar os irmãos. Este estilo requer uma disponibilidade humilde' (135); 'requer um certo acompanhamento no tempo, porque intervém no núcleo que fundamenta o agir da pessoa' (139.
3. A formação permanente.
Note-se que a palavra 'formação' aparece sobretudo num 'formação permanente' (dos cristãos, dos padres, dos catequistas), e, como tal, é vista no contexto de 'formação de toda a vida cristã' (Intro); trata-se sobretudo de uma formação para o ser antes de ser uma formação para o estar (136). Assim, por exemplo, 'o catecumenado é uma verdadeira formação de toda a vida cristã' (63); 'a formação é um processo permanente' (131); a formação ajuda a reconsiderar e a repensar a ação, alimenta a espiritualidade, sustenta a consciência missionária (135).
Note-se ainda que a palavra 'formação' também aparece num contexto de formação dos grupos e dos catequizandos. A formação dos jovens é uma formação que abrange todas as dimensões da vida que permita 'a formação da identidade pessoal' (259), 'a formação e o amadurecimento na vida do Espírito' (260), 'a formação de consciências cristãs maduras' (261), 'a formação das características típicas do cristão adulto' (261), 'formação global' e 'formação integral' (314).
Pormenor do deambulatório da catedral de Chartres